quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Conde da Granja Comary

Dunga voltou. Aquela coletiva água-com-açúcar não me engana, não. Os sorrisos e comentários descontraídos - por vezes até revidados por um ou outro jornalista - não vão me enganar, Dunga. Eu sei que por trás daquela cara de "rá! olha quem voltou?! chupa todo mundo!" tem um sujeito carrancudo e sedento por vingança. E no que precisar, meu chapa, tamo junto!

Sei que sou minoria. Somos poucos mas estaremos contigo. Esquece esse papo de torcida padrão FIFA ou de patriotismo de Copa do Mundo. O que eles querem é comemorar uma estrela no peito ou queimar culpados na fogueira em caso de derrota. Estou falando de torcida mesmo, aquela parada que só sentimos pelo nosso time do coração.

Lembra o caminho até 2010, Dunga? Lembra? Puta merda, meu amigo, você e aquele seu Catado Mecânico me levaram à loucura! Seu estilo me cativou. Resgatou meu amor pela Seleção que estava em coma profundo desde 1994. Juro, Dunga, eu nunca me recuperei bem do fiasco de 96, por isso perdi totalmente o encanto da equipe da CBF/Nike, mesmo com o penta anos depois.

Tua postura de trancar treino, boicotar privilégios, manter jogadores de nível médio e pra lá de duvidoso em prol do grupo e de um sistema de jogo que estava longe de ser futebol-arte, mas era letal, enfim, fazer com que no meio de tanto business a Seleção jogasse com traços de garra e vontade, cara, foi foda.

Aliás, esse papinho saudosista de futebol-arte é uma grande bobagem. No fundo, queremos vencer não importa como, a que custo. Ficar tocando bola pra lá e pra cá é, literalmente, bonito? Nem a pau! Mas gostam de lamber o saco da Espanha porque dominaram seus jogos, envolveram os adversários e convenientemente esquecem que sua campanha foi bem enxuta ofensivamente. 

É bem verdade que essa Alemanha aí é diferente. Além de tocarem bem a bola, sabem como atacar e fazer o tal "futebol-arte" que jornalista adora encher a boca pra falar. Eu mesmo gosto muito dessa geração alemã. Reconheço nela uma versão modernista de futebol-arte não somente pelos acachapantes 7-1 ou pela forma como construiu a campanha do tetra. É resultado de muito comprometimento, estudo, dedicação...trabalho mesmo, sabe?

Só que estou preocupado, Dunga. Temo que não temos jogadores para te ajudarem nesse re-resgate da Seleção. Não há mais Elanos para laborar com afinco na meia-cancha. Nem os Robinhos ou Júlios Baptistas da vida que, sabe-se-lá-como-ou-por-que, insistiam em fazer bons jogos com o manto amarelo de modo a acumularem convocações merecidas pelo que produziam juntos, independente do que faziam ou deixavam de fazer onde jogavam.

Agora você vai ter um indispensável Neymar. Não esquente com quem se preocupa em como jogaremos sem ele. Todo mundo sabe que a Argentina depende de Messi, Portugal de Cristiano Ronaldo, a Colômbia de James Rodríguez, ou seja, é óbvio que é complicado. Evidente que qualquer time perde sem seus grandes astros. Porém, tente treinar aí algum plano B, pra acalmar o povo que clama pela sua cabeça há 4 anos.

Não me importa se você vai ficar de bem com a imprensa, nem se vai continuar convocando o Fred, o Hulk, o Ramires, seja quem for, só me prometa que vai colocar em campo 11 homens. 11 indivíduos capazes de entender que futebol exige respeito com o jogo, com o adversário e com os fãs. 11 atletas que deixem algo além de suor, chuteiras coloridas e penteados excêntricos em campo. Você me deu um voto de confiança para acreditar na Seleção, Dunga. Agora chegou a hora de retribuir esse trato. O hexa começa agora.



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