sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ainda não estreamos

Olá, meu nome é Gabriel, tenho 26 anos e tenho um problema de disfunção erétil emocional com a Seleção Brasileira. 

Sei quando isso aconteceu, mas deixe eu ir do começo, tá bem? Eu era garoto, tinha 6 anos e o Brasil disputava a Copa de 94. É bem daí as minhas primeiras memórias futebolísticas. Eu poderia dizer que lembro bem onde vi cada jogo do Brasil naquela campanha, dos gols, coisa e tal.

Então o Brasil ganhou o tetra. Tava na casa da minha madrinha e, cara, foi um troço louco. Fogos, todo mundo gritando na rua, uma parada que eu nunca vou esquecer do alto daquela laje. Foi empatia à primeira vista. Um time que vencia! Um time imbatível.

Só que logo depois vieram os Jogos Olímpicos de 96. Eu ainda tenho cravado na minha retina a hora que o Kanu entra na área e fulmina nosso sonho dourado que perdura até hoje. Perder para a Nigéria? Assim, de virada? Quem é Nigéria? Foi um baque forte. Eu parei de torcer pra Seleção ali. É, parei.

Lembro em 98 eu azucrinando minha mãe por causa da minha alegriazinha com a vitória da França. Passei a viver do amor ao clube e ter na Seleção um símbolo de ódio, de decepção. Flertei com a Azzurra, ensaiei apoio aos nosso rivais argentinos pela vontade com que jogavam, enfim, perambulei mundo afora sempre desafiando o Brasil.

Em 2002 não foi diferente. Porém, não nutria mais ódio pela Seleção. Era indiferença. Quer dizer, se perdesse, um tanto melhor. Já aborrecente, passei a receber aquele turbilhão de informações sobre dinheiro, transferências e Europa, falta de comprometimento e chinelinhos. Isso me fez desanimar e não mais ver na Seleção um símbolo interessante para torcer. Quem eu ia zoar se o Brasil ganhasse? Não tem graça, todos ganham. Eu não vou cruzar com um alemão, um argentino, na padaria e dar uma aquela aloprada camarada.

Eu não consegui vibrar com a campanha do penta. Simplesmente não consegui. Vencemos e tal mas eu não via motivo para celebrar. 

Então chegamos a 2006. Nesse ponto eu havia aceitado que o futebol é o que faz meu coração bater e passei a curtir mais os jogos da Seleção, contudo, sempre com a corneta rente à boca e de olhos sedentos à procura de um bode expiatório.

Perdemos. Aquele quadrado mágico era realmente escroto. Não consigo acreditar até agora que o Parreira bancou um time com Kaká, Adriano, Ronaldinho e Ronaldo.

Mas veio 2010. Rapaz, eu amava aquela Seleção! Sim, eu reconquistei meu amor à amarelinha com Dunga e aquele time marrento. Era insano. Dunga só não ganhou o ouro olímpico. Enfileirou Copa das Confederações, Copa América, deu show nas Eliminatórias, fez o diabo! E batia de frente com a imprensa, convocava jogadores estranhos mas, por incrível que pareça, dava certo! O time respondia!

Aquela equipe era aguerrida! Marcava demais, saía pro jogo e, sobretudo, resolvia! Era Seleção de decisão! Não tinha tempo ruim. Entrava lá e sentava o pau em quem quer que fosse. Enjoamos de bater na Argentina, vencemos todas as campeãs do mundo, era simplesmente show!

Só que veio a Copa de 2010, as saídas erradas de Júlio César, a expulsão de Felipe Melo, os gols de Sneijder e a consequente eliminação. Dunga, óbvio, foi demitido injustamente. E eu passei a perseguir a Seleção novamente. Não era justo! Essa pressão desgraçada da imprensa, da politicagem da CBF, de quem quer que fosse. Caramba, olha nosso cartel! Ele tá pagando por um jogo!

Mano Menezes fez aquele trabalho tosco de transição e quando começou a fazer alguma coisa aparentemente certa, foi degolado para o retorno de Felipão. Felipão e seu estilo familiar. Com Parreira e Murtosa como escudeiros e tudo que tem direito. Mesmo em má fase tá lá o velho bigode a nos dar confiança.

E eu me vi numa sinuca. Copa no Brasil. Um técnico que gosto, mesmo tendo vindo de um trabalho que não justificasse sua presença ali. Jogadores de nível controverso, como Hulk, na titularidade. Gosto desse tipo de coisa. Mas...e carisma? Cativa-me, Brasil!

Estamos a um longo caminho de nos acertarmos, Brasil. Aquele arremate caprichosamente preciso de Neymar, o pênalti mandrakíssimo convertido por ele, o bico do Oscar...foi uma vitória! Eu gostei. Eu torci, de verdade. Eu comprei a ideia de te apoiar mesmo sendo contra o Mundial aqui e toda roubalheira desenfreada que gerou. 

Só que, Brasil, me escuta. Olha esse grupo. Não me iluda. Não se iluda. Não nos iludamos. Estrearemos somente nas oitavas. E, lá, Brasil, lá eu estarei contigo.





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