quinta-feira, 8 de maio de 2014

Crente na descrença

Ontem Felipão formalizou a convocação dos 23 atletas que vão representar o Brasil na Copa do Mundo em pouco mais de um mês. Como já se previa, a Seleção mais sal, sem sabor, sem polêmica, sem absolutamente nada dos últimos anos foi chancelada por Scolari em uma cerimônia na qual o protocolo deu lugar ao tédio. À expectativa em saber que Henrique será o quarto zagueiro, Victor o terceiro goleiro, Maxwell na reserva de Marcelo, além de Hernanes e Jô no grupo. Muito chato, muito previsível, muito duvidoso. Talvez esse seja o trunfo para o hexa.

As conquistas de 1994 e 2002 vieram após muita desconfiança. A relação de amor e ódio que temos com a Seleção Brasileira é posta à prova a cada quatro anos. Parece que ficou a clara impressão de que o Brasil precisa vir sob crise, pressão e desconfiança para superar-se em 7 jogos e calar 200 milhões de cornetas.

Estão ai as campanhas de 2006 e 2010 que não nos deixa mentir. O quadrado mágico de Parreira e o time pilhado de Dunga, que chegava à Copa com inúmeros títulos na bagagem, cederam. Chegaram embalados e caíram. Vá lá que o escrete de Dunga era demasiado controverso, porém os resultados davam respaldo ao comandante de chamar quem bem entendesse.

Um fenômeno semelhante ocorre com Felipão. Paizão da Família Scolari, Felipão está fechado com os que fecham com ele. Pegou o bonde andando, faturou a Copa da Confederações ano passado e ganhou o direito de fazer o que quiser nessa Seleção.

Não é de hoje que essa Seleção também sofre de uma bipolaridade às avessas. O time é bom. O elenco é bom. É extremamente cativante. Só que não empolga. Pelo menos não a mim. Sem uma pimentinha, uma intriga, uma ausência de alguém ungido pelo clamor popular força meu olhar para que eu analise o Brasil com um toque de desconfiança.

A euforia em torno da Copa e da expectativa de levar o título em casa me faz duvidar da capacidade desse time que surpreendeu nas Confederações-13. Entretanto, pouco menos de um ano depois, às vésperas do Mundial, não se reinventa. Todo mundo sabe o time de cor e salteado. E até saca as alterações a serem feitas pelo desenrolar da partida. 

Sobram tanto pragmatismo e coerência a ponto de questionar se não é o caos o elemento faltante. Isso. O caos, a zona, o barulho, a azucrinação, a tensão do povo sobre a convocação, preparação e escalação cria uma atmosfera favorável à motivação do grupo, que sedento por vingança, ganhará a Copa só para terem o deleite e a satisfação de terem ido à forra. E felizes, contentes todos ostentam seus sorrisos alegres pelo tapa na cara sofrido à base de pura psicologia reversa.

É complexo. Não reputo bom sinal chegarmos tão tranquilos, tão eufóricos na Copa. Esse mar de tranquilidade e Felipão "paz e amor" preocupa. Muito. Bem, quem sabe aí resida o trunfo que tanto queremos. A Seleção com esses 23 chamados sob a égide da Lei do Não Tem Tu, Vai Tu Mesmo corrobora tudo que sento.

O grupo é bom, o time é bom. Mas, é isso? É Fred? É Jô? É Luiz Gustavo? É Henrique? É sério?

Pior que é. Além disso, provavelmente é esse cenário cinzento que confere à Seleção Brasileira alguma chance razoável de levantar o caneco pela sexta vez.


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