quinta-feira, 27 de março de 2014

Ademílson, o profeta do vexame

14 minutos do segundo tempo. Muricy saca Pabón e lança Ademílson. Se o São Paulo até aquele momento já superava etapas rumo à eliminação, esta alteração praticamente sacramentou a queda precoce do São Paulo contra o bravo Penapolense. Acréscimos. A bola se oferece para Ademílson. O atacante chega cheio de vontade, mete a canhota nela e isola. Pênaltis? Mera formalidade. O São Paulo teria que cair porque é um time ruim e tem um elenco limitado, restrito a uma meia dúzia de bons jogadores que, no conjunto, não são capazes de fazer nada além do que incentivar o torcedor namorar com a expectativa e casar com a decepção.

Qualquer homem médio que acompanha futebol percebe que há no meio do futebol jogadores simplesmente incapazes de exercer aquele ofício. Estranhos no ninho. Tem uma cacetada deles por aí. Nesse São Paulo que inicia muito bem sua segunda temporada de desilusões, o vexame tem uma a cara de... Ademílson.

Ademílson deve ser um bom sujeito. Um cidadão de respeito. Quiçá, um bom companheiro com um ar engraçado graças àquele bigodinho controverso. Entretanto, começo a desconfiar do amor platônico que diretoria e comissão técnica sentem pelo Henry de Cotia. Impressiona o nível de inutilidade do atacante cujas boas partidas não contabilizam uma mão cheia.

Quando se olha para o banco e sua primeira opção é o Ademílson é evidente que seu time está à beira de uma catástrofe. Pior que isso é analisar o elenco e constatar com aquele ar reflexivo que os jogadores ali presentes não são exatamente ruins. Porém, o óbvio salta aos olhos: o time é horroroso. Esse paradoxo do elenco razoável para bom virar um time ridículo jamais será respondido.

Muricy Ramalho viveu uma primavera de alguns bons jogos ano passado, salvou o time do rebaixamento e elevou o astral da torcida. De repente, o time é eliminado humilhantemente pela Ponte Preta na Sul-Americana e toma um choque de realidade. Em seguida, sobram discursos contemporizadores de relativizar o óbvio ululante. E nada foi feito para mudar esse quadro!

O São Paulo 2014 é um clone mal tirado da equipe do ano passado. Volantes limitados, sistema defensivo frouxo, uma baciada de jogadores esforçados mas essencialmente ruins, privilégio que não alcança somente nosso amigo Ademílson. Não se vê nesse grupo um mínimo traço de qualidade, de tranquilidade e elegância no trato com a redonda seja ganhando, seja perdendo. É apenas um time ruim em ação sem uma solução imediata.

Seria possível direcionar a corneta a Muricy e questioná-lo por que ele insiste em fazer o time jogar tanto para frente quando o meio-campo não morde deixando a defesa extremamente e constantemente exposta. Cadê os três zagueiros, aquela bagunça na meia-cancha onde todo mundo marcava? A cadência aliada à velocidade ao sair para o ataque? O São Paulo virou um motim de 11 jogadores sem saber como e quem marcar nem como organizar uma trama ofensiva decente.

Sim, acabei de resumir todo o jogo de ontem em um parágrafo. O São Paulo pouco produziu, aceitou a marcação do adversário que, se tivesse 2% mais de capricho, qualidade ou capacidade intelectual teria repetido o feito da Macaca meses atrás. 

O fato de decidir sua sorte nos pênaltis após um empate sem gols somente potencializa o grau de mediocridade do time. Luis Fabiano morto entre a marcação; Ganso lá no meio querendo bater o recorde de tempo cochilado em campo e o de passes errados; Osvaldo, o de sempre, muita correria sem qualquer esboço de qualidade, buscou exaustivamente a mesma jogada do gol de Rodrigo Caio contra o Corinthians. E Ademílson, que dispensa comentários.

Aliás, coitado do Rodrigo Caio. Assumiu-se zagueiro, titular incontestável e, se não bastasse a cota de sustos por partida resolveu dar o ar da graça nas penalidades. Com a mesma qualidade do meia Oscar, parou no goleiro. A jovialidade lhe traiu. Quis assumir uma responsabilidade que, a essa altura, deveria estar nos pés de Álvaro Pereira, um dos que melhor tratam a bola nesse time e ausentou-se do rol de cobradores iniciais. 

Não vai ser a entrada de Pato que vai resolver. Nem a volta de Souza à volância. Basta lembrar que terão a companhia dos Denílsons, Maicons, Paulos Mirandas, Wellingtons da vida. O São Paulo não tem um grupo bom o bastante para elevar a produção da equipe, é fato. Enquanto não resolve seu problema que já ganha contornos crônicos, o Morumbi viverá de lapsos pontuais em campo até que venha o momento da substituição: ergue-se a placa, Ademílson vem aí. 



















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